Rói. Afunda os dentes no
peito e come-me a carne a eito. Dói mas não há outro jeito.
Sei que há mas não quero
saber. Continua e faz de conta que não é ferida para doer. Diz-me que é por mim
que fazes o sacrifício de magoar o coração. Diz-me que esta dor terá fim, que
esquecerei o início e que tudo o resto morrerá na recordação.
Faz-me esse buraco nos
sentidos e arranca de mim todos os nossos dias perdidos. Se fui mais do que um
corpo, diz-me que o coração é só tecido que, depois de rasgado, volta a ser
cosido. Uma pequena mentira piedosa para a alma desgostosa.
O buraco fecha sozinho.
Não te preocupes com a vida que sai. O tempo cicatriza a perda do carinho e a
ferida é folha seca que cai.
Depois desapareces da
memória e o meu coração inventa outra história. Outras personagens. Outras
paragens. Outro amor. Outra dor.
Grita acção! e rói-me o
coração.
Corta e muda de cena. Vale a pena.