Há pequenos gestos que
nos levam o coração do peito para a mão, e nos fazem dizer “pega, leva-me em devoção cega e deixa-me ser emoção”.
O resto é vida, cada
instante nunca bastante, cada desejo de vitória massacrado em batalha perdida.
Não interessa a desilusão de todas as horas más, as lágrimas secam em tudo de
bom que cada gesto traz.
É amor de viver e
enfrentar o terror de perder. O futuro é caçador que nos abate se deixarmos de
correr. Nem tudo tem de fazer sentido, muito menos as palavras que trocamos. Há
que salvar silêncios e deixar um tesouro escondido naquele pensamento que
calamos.
Um sorriso. Quando o
mundo assusta, esse é o nosso aviso. Mostramos os dentes, mas com intenções
diferentes. Não somos selvagens nem comboios desenfreados que ignoram os que
esperam em todas as paragens. Somos vontades de rir, solitárias metades a
querer-se unir.
E damos as mãos, breves
toques de dedos que nos seguram contra a força do medo. Somos as lágrimas do
dia de ontem que nos magoou muito cedo. Mas o tempo passou, a dor secou, fez-se
tarde, e a ferida já não arde.
O que sentimos pelas
pessoas é a vontade de coisas boas. As más vontades não são sentir, mas tristeza de existir. A
recusa do toque humano é descrença na divindade maior, acto profano. Temos, em
nós, os deuses da criação em eterna revolução. Só precisamos de dar voz às
musas, mães de cada pensamento, acto e intenção. Nada de recusas que intimidem
a resolução.
Lindo gesto, o teu.
Este é o meu: “pega, leva-me em devoção
cega e deixa-me ser emoção”.